terça-feira, 30 de março de 2010

Sunshine

Eram 10:18 de uma manhã de terça-feira, o dia estava nublado e ventava um ar forte e gostoso. O arborizado pátio começa a ficar vazio à medida que os alunos voltavam às suas salas, mas ela continuava lá, em seus devaneios habituais.
Repousou os olhos na mão direita e percebeu que o anel que seu pai lhe dera de aniversário, seguindo a tradição da família de presentear as mulheres com jóias ao completarem 21 anos, estava mais uma vez virado. O aro fino, mas imponente de ouro branco brilhava em seu dedo anelar como uma aliança de compromisso. E era assim que ela o usava...sempre. Uma maneira implícita de preencher o vazio do dedo que antes expunha muito mais que um simples anel.
Esticou o braço para apanhar o isqueiro preto e acender o último cigarro daquela manhã. O sol começava a surgir por entre as nuvens e uma nesga tímida de luz bateu no aro refletindo o brilho do ouro e iluminando sua mente. Tirou o anel e tornou a colocá-lo muitas vezes. Com relutância, forçou-o no dedo médio da outra mão. Sentia-se aberta, desprotegida.
Reconsiderara a decisão e, quando estava prestes a devolvê-lo ao antigo lugar, uma mão pousou em seu ombro e uma voz macia lhe falou pelas costas. – Com licença, você pode me emprestar seu isqueiro? – Claro; respondeu, baixando os olhos sem saber de onde vinha a pergunta. Virou e expôs a mão nua que continha apenas a peça preta apertada entre os dedos. Parou por um segundo em um momento de hesitação e se deteve no sorriso da dona da voz. Sorriu de volta. A garota fechou a mão forte na sua e, inclinando o rosto para frente, acendeu-o finalmente.

Com uma mão ainda na outra, recostou-se na cadeira e deu mais um trago no cigarro que sabia não ser mais o último daquela manhã.

Nenhum comentário:

Postar um comentário