segunda-feira, 22 de março de 2010

Mirror.

Talvez a ignorância seja o melhor remédio. Não falo da falta de conhecimento, mas sim do ato de ignorar o conhecimento em si. Não reconhecendo os fatos eles não doem tanto, não propagam a onda repentina de calor enraivecido que toma o corpo quando se pensa neles. Ignoramos em prol da falta de conhecimento. Assim não temos que reconhecer, não temos que enxergar a realidade que se abre como uma menina fogosa diante de nós.
Admito que muito disso tudo eu trouxe a mim mesma. Desistir parecia fácil demais, então, ignorando os fatos, eu fiquei exatamente no mesmo lugar e por nós duas, pois você já tinha desistido há muito. Enquanto o tempo passava e sua vida dava milhares de voltas, meu cabelo atingiu, no comprimento, minhas últimas costelas nesses mais de 14 meses de total inércia da minha vida.
Talvez tenha sido a certeza de que você jamais me perderia definitivamente que te levou a tomar certas atitudes. Talvez fossem mesmo falsas promessas. Mas, falsas ou não, foi minha a opção de acreditar nelas, ignorando, mais uma vez, todos os fatos límpidos que se postavam à minha frente, excluindo qualquer possibilidade que cruzava meu caminho de sair da bolha em que eu me deixei colocar.
Os dias passam mais arrastados e doloridos quando não ouço a sua voz, quando não compartilho com você tudo de importante ou completamente insípido que acontece comigo. Mas sua vida agora é outra e o caminho que você escolheu, definitivamente, não me inclui, não incluindo assim minha vida, minhas coisas.
Percebi hoje, 418 dias depois do fim, não definitivo, mas oficial, que tudo o que era nosso passou a ser meu de volta. É uma sensação meio esquisita, devo confessar, porque mesmo depois de tanto tempo e tantas coisas rasgadas fora de caixas e dentro do peito, eu acreditava piamente, não apenas em você, mas em nós. Hoje me olhei no espelho e admiti que carrego a mesmo expressão para todo canto, onde quer que eu esteja, seja a música animada e o lugar cheio de gente, seja o som apenas o das minhas lágrimas invadindo meu quarto vazio, porque nem eu mesma preencho qualquer ambiente nesses últimos tempos.
Reconheço aqui minha parte de culpa nessa história avassaladora. Reconheço minha ignorância em, sozinha e como réu confessa, viver de um passado que tornei tão presente em minha vida ao ponto de simplesmente não conseguir viver, de fato, o presente atual. Presente atual sim, pois não se aplica aqui a redundância já que vivo de um presente passado.
Não tenho mais esperança, pois, tê-la como definição literal – o ato de esperar – já não cabe mais. Porque tudo que não é cultivado um dia morre.

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