terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Resumo

Se não acreditamos em predestinação, temos que admitir então que as circunstâncias de um encontro, que por comodidade atribuímos ao acaso, são, na verdade, o resultado de uma incalculável sequência de decisões tomadas em cada cruzamento de nossa vida e que, secretamente, nos levaram até ele. Não que tenhamos buscado, nem mesmo desejado, ainda que inconscientemente, todos os nossos encontros, até mesmo os mais importantes. O que acontece é que cada um de nós age como um artista ou um escritor que constrói sua obra numa sucessão de escolhas. Um gesto ou uma palavra não determina inelutavelmente o gesto ou a palavra seguinte; pelo contrário, coloca seu autor diante de uma nova escolha. Um pintor que colocou uma pincelada de vermelho pode escolher alongá-la, justapondo-lhe uma pincelada de roxo; pode escolher fazê-la vibrar com uma pincelada de verde. No final, por mais que ele tenha trabalhado com uma certa idéia do quadro pronto na cabeça, a soma de todas as decisões tomadas, sem que tenham sido previstas, fará surgir um outro resultado. É assim que vamos conduzindo nossa vida, num encadeamento de atos bem mais deliberados do que estamos prontos a admitir, porque assumir claramente toda essa responsabilidade seria um fardo muito pesado.

Mas é difícil, muitas vezes até dilacerante admitir o quanto suas decisões e atitudes interferem no curso de sua vida. Ter certeza é impossível e, convenhamos, seria muito fácil. Mas você sente e sabe. Aí está o problema...lidar com as consequências das suas escolhas. Mas você decidiu arriscar...você decidiu abrir mão. Você teve todas as oportunidades, e foi você quem escolheu dar as costas! Medo? Medo todos temos...mas às vezes simplesmente é tarde de mais.

domingo, 6 de dezembro de 2009

In me.

Sempre tive medo de cinco coisas. Do escuro. Não posso gostar de algo que me toma e me cega. Palhaços e gente vestida de bicho. Porque são simplesmente assustadores. Aranhas. Desde menina não confio em nada que tem mais de quatro patas. Bicho que não tem cor de bicho. Um elefante azul, por exemplo. Não é normal, entende. Elefantes são de um cinza chumbo. E criei certo receio, mas não medo, pelo mar depois de um incidente quase fatal com meu pai que tive o desprazer de assistir de camarote da areia, ainda pequena. Admiro, mas respeito. Aprendi que não se brinca com algo tão grande, tão forte e tão temperamental.
Hoje, todos eles que sempre foram tão grandes, parecem ínfimos com o que sinto em relação ao futuro. O medo do amanhã me desespera e me toma por completo sem deixar brecha para qualquer outro. Não há garantias porque, do ponto de vista do medo, ninguém é forte o suficiente. É desesperador imaginar que o que está me esperando na próxima esquina pode me magoar ou me salvar de vez.
O que me resta é gritar. Porque há o direito ao grito. Então eu grito. Grito porque sei que, mesmo a plenos pulmões, ninguém irá me ouvir. Grito porque tudo o que já virou banal e patético aos olhos dos outros ainda é grande para mim. Porque sou amor da cabeça aos pés, mas ele já foi posto à prova tanta vezes que tenho medo do que possa vir a acontecer. Com ele. Comigo.
Grito porque estou com raiva e meu peito dói. Grito porque eu quero que passe e ao mesmo tempo tenho medo de que passe realmente. Grito porque me sinto uma completa idiota frente a tudo que nego para mim mesma, mesmo sabendo...
Grito porque posso e não faço. Porque quero dizer, mas engulo. Tenho medo do futuro porque tudo ao meu redor muda o tempo todo e quando dou por mim, estou no mesmo lugar. Grito porque quero ficar, mas sei que não posso.
Grito porque quero ficar...
mas sei que não vou.