quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Desta vez.

Ainda estava escuro quando Pedro abriu os olhos. Esticou os braços para o lado procurando o corpo de Teresa, mas encontrou um vazio.
Levantou, atravessou o escritório, olhou para a cozinha e parou na sala de estar. Desnorteado, começou a chamar pelo seu nome. Nada ouvia. Voltou ao quarto e percebeu um embrulho branco encima do travesseiro, no canto da cama. Abriu o envelope com calma e correu os olhos pela caligrafia torta, já conhecida.

“ A partir de hoje você não sabe meu nome. A partir de hoje você vai esquecer meu corpo, vai esquecer que já provou meu beijo. A partir de hoje eu não sou mais sua. Depois de tanto tempo e tantas tentativas que esgotaram meu corpo e alma, estou partindo. Não desse lugar, não desse mundo, mas de você. É tudo muito grande para mim, grande demais para caber no pequeno peito cheio de ossos e já esticado como mola, para todos os lados do meu ser. Para tentar caber. O amor e a dor, ambos imensos e que não encontram mais lugar em mim.
Eu sou menina, uma criança. Acredito em contos de fada, em cavalos brancos. Mas você é homem feito, mais velho, cheio de experiências, idéias, certo do que quer, que não nega nada e arrisca tudo. Arriscou tanto que acabou me perdendo. Eu sonho. Sonho até demais. Mas você não conhece a ingenuidade de um sonho. Prefere acreditar na metafísica do que em meus devaneios infantis sobre amor eterno.
A comida está no fogo e sua cama nunca ficará vazia. Você não precisa mais de mim. Mas eu preciso de você. Do seu todo e não desses pedaços de atenção jogados ao vento, divididos, confusos e imperativos.
Você escolheu um caminho, não posso contestar, mas não preciso aceitar. Não quero mais você dentro de mim, não desse jeito. Não posso mais me render ao que sinto, me rendo tanto todo dia que acabei me prendendo em uma teia de sentimentos que vão muito além da minha capacidade de sentir.
Você fez sua escolha.
Você tem tudo...
e você não precisa mais de mim.



Adeus,

T.”


Pedro leu cada linha com a certeza de que, desta vez, era real.
Dobrou o papel com cuidado e deitou-se, com um única lágrima solitária escorrendo pelo rosto.

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