Sofrer uma mudança física muito drástica ou passar por um problema emocional muito grande é complicado. Não só para você, mas para o mundo ao seu redor. As pessoas tendem a acreditar que, agora, você é aquela condição. O mundo te enxerga de uma maneira diferente.
O mundo sim, mas você, não. Não sou a calça que uso e muito menos a tristeza que sinto. Lá dentro, bem no fundo, ainda visto o mesmo número, ainda sou feliz. Tenho os mesmos medos e inseguranças que, para o mundo, não cabem mais, mas para mim são bem latentes, sabe. Pulsam dentro do peito e param na barreira dos olhos de quem vê, mas não sente. Agora aquele problema é seu único problema, nada mais faz sentido na cabeça de quem não está dentro de você, mas insiste em tentar montar seu quebra-cabeça mais que pessoal e, no final, certos de que te desvendaram, te dão aquela olhadinha torta, com a cabeça inclinada e...erram. Porque todos erram já na tentativa de tentar entender. Às vezes não tem razão nem por quê. Às vezes minha cabeça só está longe. Às vezes meu sorriso pode até parecer murcho, mas é verdadeiro sim.
O que reflito no espelho – o que você vê quando seus olhos repousam em mim- nem sempre é o que enxergo. Porque existe um fio que me percorre da cabeça aos pés e tem minha cor. Essa cor, tão minha, tão particular, não muda. Independente da condição que agora me cerca, mas que não me pertence.
Se eu pudesse, desmembraria todas as camadas que separam o mundo de mim, e colocaria em risco meu tão precioso fio, para que todos pudessem me ver – realmente – e entender que sou a mesma menina. Mas a esse pedaço ninguém tem acesso, e muitas vezes ele reluta em se revelar até mesmo para mim. Porque ele me protege do mundo. Porque ele me proteger dos meus próprios demônios.
De repente você se vê com uma bomba armada nas mãos. Veste um sorriso e finge que está tudo bem. Coloca uma blusa larga e finge que você não se importa, mesmo morrendo a cada palavra, a cada passo dado na direção contrária à que seu coração implora. Mesmo querendo correr para aquele lugar que ninguém conhece. Porque você, presa dentro dessa bolha que te cerca, grita a plenos pulmões. E ninguém te ouve. Ninguém consegue ouvir.
Entenda, a culpa não é apenas deles, a acústica não é muito boa mesmo. Não se exuma de toda a culpa. Um dia você vai conseguir se libertar. É apavorante, eu sei. Machuca. Mas quem foi que te disse que não iria doer?
Sei que é difícil acreditar que algum dia voltarei. Mas olhe bem. Não tenho que voltar, porque, na verdade, nunca fui.
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