segunda-feira, 30 de maio de 2011

Maybe this is it.

A vida tem a forma que você escolhe. Um círculo para os que remoem, um linha reta para os que gostam de segurança, uma linha tortuosa e cheia de curvas para os que insistem. No certo ou no errado. A vida tem o cheiro da gente, a cor que a gente gosta.

Eu lembro da sensação aconchegante de entrar em minha sala do jardim de infância, aquele incenso doce de massa de modelar já impregnado no chão e nas paredes. Lembro dos almoços de família na casa da minha avó. O perfume da carne de panela despontava lá embaixo, na portaria do prédio. Lembro do abraço forte da minha mãe quando quebrei o braço (a primeira vez), do olhar (quase) gentil do meu pai quando quebrei a perna. Lembro de abrir os olhos e perceber que era noite e eu estava em uma cidade completamente desconhecida. As montanhas gigantescas pareciam enormes árvores de Natal, brilhando no escuro. Lembro, como se fosse hoje, do desespero que pulava do meu peito no segundo em que percebi que minha vida tinha mudado para sempre.

Tudo muda o tempo todo e é infantilidade achar que alguma coisa é para sempre. Eu demorei vinte e dois anos para descobrir que nada é para sempre e isso não significa que é ruim, que é errado ou até mesmo injusto. Tudo se perde, todo mundo se perde em algum momento para, quem sabe, se encontrar no final. Todas as lágrimas que encontraram o caminho para fora dos meus olhos foram justas e nenhuma foi sem sentido. Não para mim. Todos os meus amores já escorreram pelo meu rosto, em um rio feliz ou triste. Mesmo que não saibam. Isso é fascinante, sabe. Poder expressar com uma única gota de água salgada tudo o que está guardado no coração.

Entenda que um estado, uma situação, nada disso é para sempre. Mas um sentimento é e não existe água nem frio o suficiente para mudar o que está dentro do peito. Meu e seu. Porque eu sou feita de intensidade e não nego nem desgosto. Tudo para mim pode ser mais doloroso (e eu sei), mas é mais bonito também. Mais puro. Tem mais valor. Porque metade de mim é amor. E a outra metade também.

Tudo está aqui e vai permanecer. Na memória, nas lembranças, no peito e nos olhos. Esse pode ser o lugar errado, na hora errada mesmo que eu queira, com todas as minhas forças, acreditar que não é. Foge do meu controle, da minha vontade. Dá medo, eu sei. Mas sentir medo é normal. O medo é o que nos torna humanos, sem ele seríamos máquinas incontroláveis. Eu também tenho medo. Muito. Mas eu não posso dizer que depois estará tudo bem. O depois é consequência do que construímos agora. O que você está construindo agora?

Depois de tantas perdas, tantos presentes, tantas lembranças e tantos rios felizes e tristes eu espero ansiosa pelo final, quando tudo vai voltar. Nesse momento, no segundo em que eu respirar e não sentir a dor lancinante cortar meus pulmões eu vou saber que está tudo bem. O nome disso? Paz.